Fazer memória de tudo o vivido três anos atrás e ao longo de todo o processo do Sínodo para a Amazônia foi a motivação para a celebração realizada pelo Comitê REPAM Manaus no dia 11 de outubro. Uma oportunidade para entender que “a gente não perde a história e reaviva a certeza de estar colocando em prática todos os encaminhamentos, tanto do Documento Final como da Querida Amazônia”, segundo a irmã Rose Bertoldo.
Por Luis Miguel Modino
Encaminhamento que segundo a secretária executiva do Regional Norte1 vão se concretizando no Regional “a partir das ações que foram tiradas como prioridade e vão sendo realizadas nas igrejas particulares”. Tudo a partir do chão amazônico, de seus elementos, presentes na celebração na terra, no ar, na água e no fogo. Mas também através da Palavra de Deus e dos sonhos do Papa Francisco recolhidos em Querida Amazônia.
Um Sínodo que junto com a encíclica Laudato Si, ajudou a entender que “somos chamados a entrar em sintonia no Deus que está em tudo e em todos”, segundo o padre Paulo Tadeu Barausse. O jesuíta insistiu em que “Deus habita tudo. Deus está presente em tudo e em todos. Isto requer de nós seres humanos uma dimensão contemplativa”. Desde aí apelou por “uma Igreja com rosto amazônico, pobre e servidora, profética e samaritana”, uma Igreja onde experimentar “a força do Evangelho que atua nos pequenos”, que é convidada “a uma vida mais simples de partilha e gratuidade”.
O jesuíta fez ver “o compromisso de defender em nossos territórios e com nossas atitudes a floresta amazônica em pé”; de “comprometermo-nos com uma economia integral, na qual tudo está interligado”, de “acolher e renovar a cada dia a aliança de Deus com todo o criado”. Algo presente na Eucaristia, que segundo ele é “fonte de luz e motivação para as nossas preocupações pelo meio ambiente, e levar-nos a ser guardiões da criação inteira”.
Um processo que continua dando passos, como aconteceu neste ano com o Documento de Santarém, fruto do encontro que fazia memória do realizado 50 anos atrás. Uma Assembleia Sinodal onde pela primeira vez as mulheres eram um grupo significativo, segundo lembrou a Ir. Rose, que foi uma das auditoras do Sínodo, e que “está ajudando a trazer para a realidade a questão da ministerialidade, voltada à presença da mulher na Amazônia, como alguém que faz a diferença”. Espaços ocupados há tempo, mas que agora com o Papa Francisco com mais intensidade, avançando em questões relacionadas com o diaconato feminino, mostrando a concretude do Sínodo.
Um tempo que vai além dos três anos que tem passado desde a Assembleia Sinodal, que teve seu início com o processo de escuta, “onde nós fomos da periferia para o centro”, segundo o padre Zenildo Lima. Segundo o reitor do Seminário São José da Arquidiocese de Manaus, “nós arrastamos para Roma não somente as demandas, as esperanças dos povos amazônicos e da Igreja na Amazônia, mas nós arrastamos para lá um jeito de ser Igreja que marcou o centro”. Segundo o auditor sinodal, “o atual Sínodo sobre a Sinodalidade é um desdobramento do Sínodo para a Amazônia”.
A tarefa agora é “voltar para as periferias e estar juntos, próximos das periferias”, afirmou o padre Zenildo. Uma urgência diante da “derrocada da democracia e de esperanças, e o que a gente vive hoje no Brasil é assustador e é muito ameaçador para nossa esperança”. Periferias onde gente pequena está defendendo dinâmicas de morte, destacou o padre, que disse que abraçar os sonhos moldados pela Igreja e pelo Papa não será tarefa do centro e sim nossa. Por isso ressaltou a necessidade de estarmos nas periferias, onde se reúne pouca gente, gente pequena, nos pequenos sinais de luta que são organizados e nos pequenos sinais de resistência, ainda mais vendo como o centro está com uma atitude avassaladora diante dos pequenos e das periferias, que “é o lugar que a Igreja tem que estar”, mesmo diante do fascínio pelo centro.
Algo que tem que levar a pensar em que Igreja queremos, segundo Patrícia Cabral, refletindo sobre a realidade das áreas missionárias na Arquidiocese de Manaus, divididas em comunidades, mas que nem sempre é aceito. Segundo ela, isso “hoje se tornou um desafio, porque a gente fala de voltar às periferias, a gente fala de voltar às bases e a gente não está conseguindo isso, até porque a proposta que muitas vezes a gente leva, ela não está encantando, porque eles estão sendo encantados pelas outras propostas que estão sendo apresentadas“, deixando de lado tudo o que faz referência a questões sociais. Uma Igreja dividida que desafia a se questionar sobre como trabalhar, especialmente com os jovens, que “não querem se reunir mais dentro da Igreja”.
Uma Assembleia Sinodal diferente, desde a procissão inicial, “desorganizada, mas cheia de sentido, porque era o povo com o Papa, o Papa com o povo”, segundo lembrou o padre Júlio Caldeira. Um processo que mesmo devagarzinho vai caminhando, como está sendo mostrado nos testemunhos sobre os frutos do Sínodo. Iniciativas pequenas, nas periferias, que estão ajudando a concretizar o Sínodo, o que tem que levar a celebrar sem olvidar os desafios do Sínodo e a realidade que faz parte dos diferentes países da Pan-Amazônia. Por isso, o religioso da Consolata insistiu em “não desanimar e fazer coisas concretas. Por menores que sejam, isso ajuda a transformar o mundo”.
Gorete Oliveira destacou a importância da proximidade entre os movimentos sociais e o Papa Francisco, a importância das comunidades eclesiais de base, o declínio atual das Pastorais Sociais, da Pastoral Operária, que deve levar à Igreja a se questionar sobre sua inserção nas periferias. Propostas do Sínodo que devem ser refletidas, segundo a Ir. Fátima, Cônega de Santo Agostinho, que falou sobre a separação presente dentro da própria Igreja, que desafia a estar se misturando, especialmente nas periferias, buscando fazer realidade “o tempo novo que a gente quer”.
Mercy Soares falou sobre as referências do Documento de Santarém 2022 à Querida Amazônia, refletindo sobre a vacância muito grande na Igreja católica em termos de formação, que ajude a “chegar às bases e levar essa formação”, repensando a estrutura logística dos cursos. Junto com isso, ela refletiu sobre a dificuldade para trabalhar em rede, questionando “como é que a gente pode atuar para que transforme isso aí numa rede, para se tornar uma ação em rede”, buscando ajudar as comunidades a se formar em sinodalidade.
Fonte: CNBB – Regional Norte 1