As mulheres indígenas são importantes líderes de movimentos sociais em todo o continente, com diferentes agendas, na defesa de seus próprios povos, na defesa do meio ambiente e nas melhores condições de vida.
Por Vanessa Xisto – REPAM
A Pan-Amazônia é composta por nove países (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa). São mais de 7 milhões e meio de quilômetros quadrados que constituem o bioma amazônico. Além de ser uma das maiores reservas de biodiversidade do mundo, com 30 a 50% da flora e da fauna do planeta, concentra 20% da água doce não congelada e mais de um terço das florestas primárias de todo o planeta.
Os povos indígenas têm lutado contra a colonização, o capitalismo, a desapropriação de seus territórios, genocídio e etnocídio.
A indígena Anitalia Pijachi é da Amazônia Colombiana e pertence ao povo Ocaina em Putumayo, e compartilha as maiores dificuldades e preconceitos que uma mulher indígena sofre, não apenas nos territórios, mas também na política e no mundo. Anitalia afirma que um dos preconceitos é dizer que as mulheres indígenas não sabem de nada apenas para que eles possam continuar nos colonizando porque somos pobres, e esta palavra “pobres” é a que tem sido tão profundamente enraizada em nossas gerações passadas que acreditam que viver na selva é uma forma de selvageria ou é sinônimo de pobreza e ignorância e outro preconceito é o tabu de nossa sexualidade.
Em uma fala sobre a sexualidade e direitos da mulher indígena, afirma que:
Eles acreditam que, por sermos mulheres indígenas, qualquer pessoa pode vir e explorar nossos corpos ou vender nossos corpos ou prostituir nossa imagem, e ainda acreditam que as mulheres indígenas não sentem, não choram, não podem dizer nada, não podem falar, têm que ficar em silêncio por medo de serem assassinadas, por medo de serem exploradas ou expulsas do território. E isto tem a ver com as mulheres que vivem em territórios colonizados há mais de oitenta, sessenta anos, onde veio a mineração, onde veio a extração de madeira, onde veio a exploração das florestas. Nesses assentamentos, vemos muitas dessas violações dos direitos das mulheres indígenas, porque eles acreditam que as mulheres indígenas estão acostumadas a ser donas de casa ou empregadas domésticas nas casas de famílias brancas, gostaríamos de ser de famílias colonizadoras, e essas famílias não garantem o direito ao trabalho decente e à seguridade social”.
Uma mensagem de esperança
A mulher indígena é sinônimo de força e resistência e diante de tantas lutas já enfrentadas, ainda tem a capacidade de renascer constantemente após tantas tragedias e diante disso, a indígena Anitalia traz uma mensagem de força e esperança a todas as mulheres.
Estamos no momento certo para sermos protagonistas da nossa própria história. O mundo está nos ouvindo e de alguma forma portas e janelas se abrirão para nos escutar, as mulheres do território desta selva e periferias. Podemos falar e denunciar sem medo, porque nesse momento a Igreja Católica, através do Papa Francisco, reconhece que somos uma parte importante da humanidade para o cuidado e proteção do território, pela salvaguarda da vida do que chamamos de lar comum”.
Além da luta pela sobrevivência, e pelo direito de desfrutar de suas culturas, linguagens, medicinas tradicionais e de toda ancestralidade, uma pauta que une todos as mulheres indígenas do país é a violação de seus direitos.
Darlyn Garcia é indígena da Amazônia Venezuelana e advogada. Pertence ao povo Bare e Baniwa no Estado do Amazonas, e fala um pouco sobre essa pauta de violação das mulheres indígenas.
O maior dano na sociedade atual é a discriminação pelo simples fato de ser uma mulher indígena, eles colocam barreiras e obstáculos para torná-la invisível, o que acontece muito na violência de gênero e até mesmo no campo do trabalho. A dificuldade para a mulher indígena neste tipo de evento é a falta de conhecimento, que pode levar à violação de seus direitos como mulher e como mulher indígena”.
Sobre a violência contra mulheres indígenas
A indígena Jama Wapichana é membra da União das Mulheres Indígenas da Amazônia brasileira e pertence ao povo que vive na fronteira entre Brasil e Guiana. Sobre a violência contra mulheres indígenas, Jama relata que:
A violência doméstica nas comunidades e o silenciamento das mulheres é algo que nós precisamos que as políticas públicas possam atender com mais eficiência, para que as nossas mulheres possam ser ouvidas e acolhidas, mas também tenho visto que as mulheres indígenas têm se mobilizado, porque nós estamos vivendo um tempo muito histórico para as mulheres, para a população indígena no Brasil em que a grande maioria tem se lançado como candidatas ao parlamento. Precisamos fortalecer isso enquanto mulher, enquanto povo, enquanto coletivo e enquanto cidadão também”.
Fonte: Comunicação REPAM