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O cenário proposto no projeto “Kukama-Tikuna-Magüta” tem sido propício para que as narrativas próprias das comunidades indígenas que habitam a região da tríplice fronteira Brasil-Colômbia-Peru sejam reivindicadas por meio de um processo comunicativo que entende que a cosmovisão e os meios de vida indígenas são alternativas que promovem o cuidado da nossa Amazônia.
Por Equipe de Comunicação da REPAM
Nazareth foi fundada como comunidade indígena em 1945, dentro da jurisdição do departamento de Amazonas (Colômbia) e ao lado da cidade de Letícia. Naquela época, 15 famílias magüta chegaram à região onde o riacho Pacuatua deságua no rio Amazonas. As atividades de subsistência da comunidade têm estado ligadas à agricultura local e à pesca; atualmente, a economia das famílias de Nazareth é fortalecida pelo artesanato e pelo turismo. Ao mesmo tempo, a comunidade promove a preservação da língua magüta como uma forma de conservar diferentes valores ligados à sua memória e cosmovisão.
Processo de formação
Propor uma dinâmica de formação e acompanhamento em comunicação, para desenvolver dentro das comunidades nativas, é um desafio que a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) tem assumido com o objetivo de contribuir para o caminho da transformação social a partir da Amazônia. Hoje em dia, os moradores de Nazareth, além de receber ferramentas e conceitos técnicos das teorias da comunicação, fazem parte de um processo de organização e mobilização que entende a necessidade de refletir sobre a realidade socioecológica e cultural dos povos indígenas e as alternativas de transformação que estes possam gerar.
As jornadas de reflexão têm mostrado um panorama recente do território e, portanto, aquilo que deve ser considerado no momento de executar ações de incidência. O processo de cartografia social, estabelecido no plano de comunicação e que responde a uma atividade de mapeamento territorial, evidencia uma série de problemáticas sociais, como o alcoolismo e a dependência química. Também foram identificados problemas ambientais persistentes relacionados ao manejo de resíduos e ao desmatamento. É necessário ressaltar a importância da dignificação humana como uma necessidade no processo de defesa da vida, juntamente com o cuidado do ecossistema.
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As projeções de Nazareth
Hoje em dia, os jovens da comunidade de Nazareth, organizados junto aos seus avós e sábios, realizam mostras culturais nas quais se destaca a riqueza das tradições do povo magüta. Embora essas atividades estejam ligadas ao turismo, não se deixa de lado a transmissão de conhecimento de geração em geração para preservar os valores ancestrais. A motivação para resgatar relatos e narrativas, que possam ser expressos em diferentes linguagens, gera um processo de apropriação cultural; algo fundamental se quisermos realizar uma formação na área da comunicação que gere ações sociais transformadoras.
Devemos entender que a comunicação abrange atualmente uma série de formas de ação que vão além dos meios tradicionais (imprensa, rádio e televisão). Além disso, apesar do crescimento dos linguagens multimidiáticos, muito ligados às chamadas redes sociais, não podemos nos afastar da ideia de que o eixo transversal reside na narrativa e no relato. A missão e a projeção estão em direcionar esses processos, que incentivam a reflexão dos participantes, para que sejam apropriados pelos atores e receptores que convivem além das fronteiras das próprias comunidades e da própria Amazônia, buscando a defesa total deste grande ecossistema necessário para a preservação da vida no planeta.
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