A situação em todo o território amazônico se agrava ano após ano, e a necessidade de um trabalho de incidência, com maior articulação, é cada vez mais urgente. A abertura do comitê ampliado da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) foi um espaço para que os participantes do encontro destacassem que a preocupação com o extrativismo e a destruição geral da selva amazônica e a perseguição aos defensores é cada vez maior.
Por Equipe de Comunicações REPAM
O painel que abriu o evento foi composto por representantes das REPAMs nacionais como a Bolívia, Brasil, Colômbia, Peru e Venezuela, que expressaram grande preocupação com os casos de violação de direitos (tanto dos povos quanto dos territórios). O cenário tornou-se muito mais complicado; ao grande impacto de crimes como o narcotráfico, a extração de hidrocarbonetos e o extrativismo desenfreado, somam-se os problemas gerados pela exploração de ouro.
Exposição de casos na Amazônia
O diálogo ratificou que, hoje em dia, em torno da comercialização de ouro (legal ou ilegal), gera-se uma violação desmensurada de direitos. Na bacia do rio Beni – Bolívia, a contaminação gerada pelas mineradoras afeta diretamente o povo Esseja; não se pode ignorar que a Bolívia é um dos centros de distribuição de materiais pesados utilizados na mineração. No caso do Equador, foi destacado que o boom da mineração gera não só cenários de deterioração territorial, mas também a perseguição a defensores da Amazônia; um panorama muito semelhante ao que ocorre no território Pan-Amazônico da Venezuela, onde, segundo o relatório GAO da SOS Orinoco, entre 70% e 90% do ouro sai do país de forma ilegal.
O comitê ampliado da REPAM tem incentivado a reflexão e a busca por ações de incidência, que permitam fortalecer e dar continuidade a processos como o reconhecimento do rio Marañón como sujeito de direito na Amazônia peruana. Esse acompanhamento deve considerar o cenário de expansão mineradora generalizada na selva e a mudança na atividade econômica ilegal dos grupos armados, que têm visto a mineração como um negócio muito mais lucrativo.
Foram destacadas os números fornecidas pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente (Imazon), que indicam que, de janeiro a setembro de 2024, foram degradados exatamente 26.246 quilômetros quadrados de floresta, o maior número dos últimos 15 anos. Setembro de 2024 foi o mês em que se registrou o maior número de hectares degradados; o período de seca e menor quantidade de chuvas é aproveitado por aqueles que depredam o território amazônico.
Uma crise existencial
Também foram trazidos à mesa de debate a situação da violência contra as mulheres na Amazônia, a forte influência das economias estrangeiras dentro do território Pan-Amazônico e a necessidade de promover os direitos ambientais que pertencem ao território em si. É válido defender a ideia de que “a crise climática é uma crise existencial”. Na abertura do comitê ampliado da REPAM, foi afirmado que defender o meio ambiente por si só é insuficiente, se não se compreender que está em jogo a vida humana; o trabalho pela sustentabilidade ambiental deve caminhar lado a lado com a proteção das comunidades e sua dignidade, reconhecendo que o bem-estar do planeta e das pessoas está interconectado.
Durante os três dias do comitê, os delegados de cada uma das REPAM nacionais, dos núcleos temáticos e autoridades eclesiais avaliarão o trabalho e projetarão as ações a serem executadas de acordo com as urgências estabelecidas pela rede em seus 10 anos de existência. A defesa dos direitos humanos, a incidência política, a justiça socioambiental e o bem viver marcam, novamente, o desenvolvimento deste comitê ampliado 2024.