No dia 29 de maio, O Papa Francisco convocou um novo Consistório, que será realizado no dia 27 de agosto. Na lista dos nomes anunciados da “janela do Ângelus”, estava o nome de dom Leonardo Steiner, e com ele a Igreja da Amazônia.
Por Padre Modino
Segundo o Arcebispo de Manaus, seu cardinalato é “uma manifestação de afeto e apoio do Papa Francisco ao serviço evangelizador das dioceses e prelazias que estão na Amazônia brasileira”. Mas também, dom Leonardo vê sua escolha como um chamado a “uma vida mais simples, uma maior proximidade com os sofredores e pobres, a servir em comunhão com os irmãos no episcopado”. Tudo isso junto com um povo e uma Igreja de múltiplos rostos.
Os novos cardeais são chamados ao “serviço à Igreja que está atenta aos dramas humanos, especialmente a dos pobres”. Uma nomeação no contexto do Sínodo para a Amazônia, mas também dos 50 anos de Santarém, que busca “uma Igreja encarnada, libertadora”.
Diante disso, o arcebispo de Manaus espera “ser uma recordação do ministério do bispo de Roma na região e, por isso de fidelidade em relação ao cuidado da Casa Comum, à escuta e proximidade aos povos originários, à justiça na superação da violência em todos os âmbitos, à presença samaritana junto aos pobres”, insistindo em que “farei todo o esforço para que a sua voz ecoe entre nós”.
No Regina Coeli da Solenidade da Ascensão do Senhor, o Papa Francisco nos surpreendeu com a convocação de um novo Consistório, no qual o Colégio Cardinalício será enriquecido com a presença de 21 novos cardeais. Desses, 16 são menores de 80 anos e, por tanto, eleitores num futuro Conclave. O que representa para o senhor essa escolha por parte do Santo Padre?
Uma manifestação de afeto e apoio do Papa Francisco ao serviço evangelizador das dioceses e prelazias que estão na Amazônia brasileira. Um gesto de proximidade e comprometimento. Como o Santo Padre está comprometido com a Amazônia, a nomeação pode ser o desejo de que a Igreja na região permaneça próxima e ativa e, sempre mais, entre no movimento do espírito sinodal: escuta, partilha, comunhão, evangelização.
Pessoalmente, a escolha leva-me a buscar uma vida mais simples, uma maior proximidade com os sofredores e pobres, a servir em comunhão com os irmãos no episcopado. Admirar a fé e a solidariedade das nossas comunidades. Corresponder ao modo afetuoso e fraterno que as caracteriza. Assumir melhor o compromisso de animar as comunidades a partir do Evangelho e da Carta Querida Amazônia que indica os passos evangelizadores para nós que vivemos nestas terras.
Os cardeais são chamados a entregar sua vida pela Igreja, pelo Papa e pelo Evangelho. Como isso se concretiza no atual momento da história da Igreja? Como se manifesta na vida do senhor esses compromissos para os quais é chamado, também, agora, por meio desta nova missão?
O momento histórico da Igreja tem sua tensão e agressão, sua esperança e santidade. Percebemos a incapacidade de sair de estruturas envelhecidas para inspirações que o Espírito Santo inspira, de seguranças legislativas e de costume para a liberdade da samaritanidade e da misericórdia. Movimentar-se do moralismo para o horizonte da gratuidade salvífica. Na Mensagem enviada para o Dia Mundial das Comunicações deste ano, Papa Francisco convidava a todos a manifestar a necessidade de um mundo harmônico: “cientes de participar numa comunhão que nos precede e inclui, possamos descobrir uma Igreja sinfônica, na qual cada um é capaz de cantar com a própria voz, acolhendo como dom as dos outros, para manifestar a harmonia do conjunto que o Espírito Santo compõe.”
Os novos cardeais foram chamados a colocar à disposição do Evangelho, da Igreja, do Santo Padre a voz, os dons, a vida. Tudo como serviço à Igreja que está atenta aos dramas humanos, especialmente a dos pobres, levando a esperança e a vida do Ressuscitado. Foram chamados a colocar a voz e os outros dons a serviço da paz, da fraternidade, da justiça, do amor, da harmonia da casa comum. Viver em maior profundidade o Evangelho, pois é uma entrega, um serviço. Voz, dons e vida para despertar para a beleza da santidade.
O senhor é o primeiro cardeal da Amazônia. A nomeação pode ser considerada um passo a mais na caminhada da Igreja na região, no pós-Concílio iniciado há 50 anos atrás, com o Documento de Santarém e reforçado de modo especial com o Sínodo para a Amazônia?
O Documento de Santarém uniu as igrejas particulares numa caminhada evangelizadora. Ofereceu os elementos fundamentais para que a Igreja estivesse encarnada na Amazônia: dinâmica de comunidades de base, formação dos leigos, opção pelos povos indígenas, fortalecimento dos Institutos de Formação. Lendo o Documento final do Sínodo para a Pan-amazônia e a carta Querida Amazônia de Papa Francisco, percebe-se a grandeza, a beleza e a dinâmica nascida em Santarém.
A Igreja compreendeu o momento histórico e buscou o modo e meio de anunciar e viver o Evangelho. Com a nomeação, Papa Francisco poderia indicar a necessidade de continuar a caminhada, incentivados e inspirados pelo Sínodo. O Sínodo oferece a oportunidade de uma Igreja encarnada, libertadora, realizando os quatro sonhos de Querida Amazônia. O Sínodo é expressão da caminhada e expressão do futuro de nossa Igreja.
Nessa perspectiva, diante das primeiras reações, – por meio das quais lhe denominam “o cardeal da Amazônia” -, como o senhor enfrenta essa responsabilidade em função da nova missão que o Papa Francisco lhe confia?
Com a nomeação Papa Francisco mostra o seu afeto, proximidade e compromisso com a Igreja que está nesta região e com toda a realidade onde ela se encontra. Tenho a sensação de que o Papa está a pedir à Igreja na Amazônia brasileira que realizemos os sonhos que ofereceu. Sou um entre tantos homens e mulheres que buscar viver do Evangelho: mulheres e homens leigos, diáconos, presbíteros, vida religiosa, bispos. Sinto-me rodeado por esses irmãos e irmãs, e inserido na multidão que forma a Igreja. Tantas riquezas culturais de nossas comunidades.
Estar atento à dinâmica da Igreja que procura inculturar o Evangelho. Criar mecanismos e dinâmicas que visibilizem as agressões e as belezas, as destruições e as esperanças. Buscar um diálogo com as universidades e outras instituições para tornar visível as problemáticas e a busca de soluções. É bom perceber que as pessoas compreendam a nomeação como proximidade do Papa para com a Amazônia. Ajuda a distanciar-se de méritos pessoais e obriga a um compromisso de serviço livre.
Dom Leonardo, seria a nomeação, uma estratégia do Papa Francisco para ter no Colégio dos Cardeais alguém em defesa da floresta e dos povos da Amazônia?
Agradecer a Papa Francisco por ter olhado para a periferia da Igreja que está na Amazônia. Fui chamado a ser um colaborador próximo, a ajudá-lo no exercício do seu ministério de Bispo de Roma, como ele mesmo expressou. Ele tem demonstrado o cuidado e defesa da casa comum que está na Amazônia. Espero ser uma recordação do ministério do bispo de Roma na região e, por isso de fidelidade em relação ao cuidado da Casa Comum, à escuta e proximidade aos povos originários, à justiça na superação da violência em todos os âmbitos, à presença samaritana junto aos pobres.
Nesse sentido, sinto-me comprometido no cuidado e defesa da Amazônia brasileira nas dimensões por ele apontadas: ecológica, social, cultural eclesial. Quando falamos de defesa, é a manifestação de compromisso de cuidado e de cultivo expresso na Laudato Sì, contrapondo à destruição, exploração, dominação. O Papa tem sido a voz da floresta e dos povos amazônicos, farei todo o esforço para que a sua voz ecoe entre nós.
Fonte: Vatican News