No final de sua ordenação episcopal, Dom Zenildo Lima iniciou suas palavras dizendo que “não poderia compreender este ministério de bispo se não em perspectiva missionária nesta feliz coincidência de encerrar um Congresso Missionário Nacional com a expressão ministerial de uma Igreja Local”.
Por Luis Miguel Modino
Segundo o bispo auxiliar de Manaus, “ministerialidade e missionariedade são expressões da Igreja profundamente implicadas entre si”, agradecendo as Pontifícias Obras Missionárias por acolherem esta vivência da Igreja de Manaus.
É verdade que tu me amas?
Lembrando de sua sede como bispo auxiliar, Maraguia, uma Igreja que existiu na Tunísia, Dom Zenildo Lima disse que “os conflitos distantes têm a ver com a vida das nossas Igrejas Locais”, insistindo em que “toda experiência da missão nasce do fecundo encontro com o Senhor, que toma iniciativa como primeiro missionário de nos comunicar o seu amor, ainda que ele mesmo nos interpele: Simão, Filho de João, é verdade que tu me amas?”, lembrando das palavras do Evangelho proclamado na ordenação.
Palavras que ele disse ter escutado “em linguagem de missão”, o que o levou a agradecer à paróquia onde foi batizado, a sua família, onde “a fé moldou-se como esperança em tempos tão difíceis e tão desafiadores”, onde “foi se atualizando com gestos de solidariedade e compaixão entre nós e para com os outros”, a sua comunidade de origem no Morro da Liberdade, suas amizades e aqueles que foram lhe educando na fé. Esse foi o chão onde foi surgindo sua vocação.
Um caminho vocacional que, segundo o novo bispo, “nasceu do incômodo de um apelo que gostaria, em princípio que não tivesse nada a ver comigo”, lembrando de seu pároco, o reitor do Seminário, de “alguns dos mestres que tanto apostaram em mim”. Um tempo em que ele disse ter sido formado pela Igreja de Manaus, “na pessoa dos seus pastores, do seu dinamismo pastoral, da sua comunhão que hoje chamamos de sinodalidade”, enfatizando que “a Igreja de Manaus sempre foi o espaço privilegiado da minha formação permanente”.
A riqueza da Igreja da Amazônia
“Neste chão amazônico foi moldado meu ministério presbiteral, este povo me formou”, ressaltou Dom Zenildo Lima, lembrando dos “seus ministros, a riqueza extraordinária dos cristãos leigos e leigas, as religiosas verdadeiras educadoras e guardiãs para que o ministério por mim exercido não desaguasse em anomalias do clericalismo. Sempre que estivemos todos juntos, nas assembleias, nas solenidades, nas procissões, na Festa de Pentecostes”. Um caminho onde ele contemplou “a riqueza do povo de Deus ali reunido, somente depois eu podia convocar convencido da alegria da comunhão: Canta, canta, canta bonito, povo de Deus”.
Fazendo uma leitura do chamado ao episcopado desde a terceira pergunta de Jesus a Pedro, que ele diz ter vivenciado como algo que “me soou constrangedor”, Dom Zenildo disse que “só agora entendi que ele me interpelava exatamente com estas mesmas palavras que chegaram até mim como apelo de totalidade. Totalidade no amor, totalidade no serviço. Só agora entendi que o pedido pela totalidade estava presente desde a primeira vez que ele me interrogou. Agora me pede tudo o que posso oferecer”.
Servir como bispo nesta Igreja de Manaus
Um “servir como bispo nesta Igreja de Manaus”, que lhe leva voltar seu olhar “para vocês”, “para a pessoa de Dom Leonardo que num insistente gesto de confiança fez escolha teimosa não necessariamente por um indivíduo, mais que isso, por um sujeito local”, ressaltando que “sua insistência não foi somente com minha pessoa, mas com esta Igreja de Manaus”. Um olhar que também se volta para o Seminário São José, dizendo que “minha vida está estreitamente perpassada pelo Seminário”. O novo bispo falou para seus irmãos bispos, dizendo que “para quem vai ser bispo nesta região, que escola privilegiada o episcopado deste Regional Norte 1 de quem sempre me senti próximo e disponível como um servidor e assim continuo oferecendo minha disponibilidade”.
Dom Zenildo Lima dirigiu seu olhar para “os agentes que constituem esta Igreja Local”, ressaltando sua proximidade, expressada nas “incontáveis mensagens, surpreendentes manifestações de afeto”, repetindo as palavras de Santo Agostinho: “Para vocês sou bispo, com vocês sou cristão”! Eu me sinto um pouco diferente, dada a vossa proximidade, “com vocês eu sou bispo!”. Ele insistiu em que “vocês agora fazem parte desta resposta, a voz de vocês ecoa na minha e mesmo fraco e pobre insisto em dizer: Senhor tu sabes tudo, sabes que eu te amo!”.
O novo bispo mostrou sua gratidão a Nossa Senhora da Conceição, “foi ela quem respirou por mim quando num leito de UTI quase em fase terminal os meus pulmões não davam mais conta sequer de lhe suplicar, respira por mim, Mãe do Céu. Eu experimento sem nenhuma sombra de dúvidas: ‘A Mãe de Deus está Conosco’!”
Lembrança dos que deram a vida
Falando da missão, Dom Zenildo insistiu em que ela “não nos conduz somente aos confins do mundo, ela nos leva aos confins da história, aos confins dos tempos, ao novo céu e nova terra, a terra sem males. A existência destinada aos que não desistiram, aos nossos mártires desta Amazônia, aos homens e mulheres que ofereceram a própria vida, até mesmo aqueles a quem a vida muito machucou”. Ele lembrou e se uniu “ao meu pai Leonardo Pessoa, ao bispo Jackson Damasceno que inaugurou esta modalidade da presença do ministério episcopal em nossa Igreja, a tantos cristãos leigos e leigas que doaram sua vida pela missão, religiosas exemplares cuja memória ainda alimenta a vida de nossas comunidades, ao meu amigo o Pe. Luis Gonzaga de Souza, ao nosso amado Dom Sérgio Castriani. Um bispo Missionário”, perguntando “o que diria Dom Sérgio de uma ocasião como esta? O que escreveria Dom Sérgio…”.
Ele sente que foi de Jesus que “o seu convite amoroso acolhe o que eu tenho para oferecer. Agora que poderíamos fechar este diálogo ele novamente surpreende e faz com o que meu olhar não se limite aos ambientes eclesiais e eclesiásticos, mas se estenda aos pequenos, aos rejeitados, aos feridos, aos pobres, nas expressões mais dramáticas que se apresentam na história deste chão amazônico: o povo das nossas periferias, as crianças desprotegidas, a juventude sem sonhos, sem esperança, sem estudo e sem trabalho, as mulheres sedentas de dignidade e reconhecimento, os idosos abandonados, homens e mulheres em situação de rua, migrantes, os povos dos beiradões, ribeirinhos, as populações indígenas”.
Dom Zenildo Lima insistiu: “na verdade, são eles que reconfiguram nossos espaços eclesiais. Jesus prossegue este diálogo e num silencio que vai rasgando o tempo acrescenta o que sutilmente segue ecoando: Apascenta as minhas ovelhas!”. No final do Congresso Missionário, ele lembrou que “no desfecho deste diálogo que foi um diálogo com todos nós, o convite: ‘Segue-me’ nos encontra dispostos, animados com corações ardentes e pés a caminho. Das nossa Igrejas Locais partiremos aos confins do mundo!”.
Fonte: CNBB Regional Norte 1