A tríplice fronteira Brasil-Peru-Bolivia é uma das principais rotas migratórias da Amazônia. A cada ano, milhares de pessoas cruzam a fronteira em direção a vários destinos no Brasil e no mundo. Os migrantes são motivados por diferentes situações em seus países de origem que vão desde crise política, financeira, segurança, falta de oportunidades profissionais, entre outras.
Por Oficina de comunicação na tríplice-fronteira
A igreja católica tem acompanhado com atenção a situação migratória na região. Segundo o padre Paco, missionário Jesuíta que atua região, o maior fluxo migratório foi observado no ano de 2010 de haitianos que migraram em decorrência do forte terremoto que atingiu o país naquele ano. Em seguida, identificou-se o aumento de venezuelanos que saíram de seu país em decorrência da situação política e econômica enfrentadas durante o governo de Nicolás Maduro. “Hoje vemos o movimento contrário pois, muitos migrantes haitianos estão retornando pela mesma rota para tentar chegar aos Estados Unidos”, afirmou o missionário.
Os registros oficiais da Cáritas da diocese de Rio Branco, Brasil, e da Cáritas de Madre de Dios, Peru, que acompanham o fluxo migratório na região, foram registrados 1.191 atendimentos pessoas na casa de passagem de Assis Brasil, no ano de 2022, superando os mais de 880 atendimentos realizados em 2021. Segundo a Ir. Clarice Berri, religiosa da congregação das irmãs catequistas franciscanas: “atualmente temos visto mais migrações em famílias, casais com filhos que, geralmente, já tem algum contato e vêm em busca de oportunidades”, o que reflete o aumento da migração de famílias que ingressam no Brasil em busca de encontrar outros familiares que já vivem no país.
Irmã Clarice e Padre Paco fazem parte de uma rede de apoio aos migrantes que reúne outras pessoas da igreja católica e do poder público para garantir atendimento básico aos migrantes que passam pela região. Foi a partir desse trabalho de articulação e incidência que foi inaugurada a casa de passagem de Assis Brasil, visando ser um espaço de acolhida e atenção aos migrantes que transitam pela região. A casa de passagem é mantida com recursos do governo federal e gerenciada pelo governo municipal, tendo como principal função o acolhimento dos migrantes, oferecendo alimentação, higiene pessoal e estadia até que estejam aptos para seguir viagem. No momento de realização desta matéria, a casa contava com 10 pessoas hospedadas.
Migração em família
Alexsander e Marta saíram da Colômbia com seus dois filhos para buscar melhores oportunidades de vida no Brasil. O casal colombiano morava e trabalhava em um sítio e se dedicava a produção rural, no entanto, se viu forçado a migrar de seu país pela situação econômica e após sofrer assédio do narcotráfico. A viagem já dura mais de 03 meses, passando por Equador e Peru antes de chegar ao Brasil.
Durante o percurso a família enfrentou diversas dificuldades, como a falta de recursos financeiros para gastos básicos, perda de documentos e roubo. O casal pretende chegar no estado de São Paulo, com a promessa de um emprego garantido e espera poder manter-se no país para criar seus filhos e refazer a vida da família.
Carmelo e Marcela, um casal jovem venezuelano, trilha seu caminho desde a Venezuela, passando por Peru até chegar ao Brasil. Em busca de trabalho e vida digna, os jovens seguem os caminhos da família de Marcela, que passou pela mesma rota anos atrás e os espera em São Paulo para que possam recomeçar a vida em uma nova cidade. O casal relata a preocupação com os problemas de saúde pelos quais marcela passa atualmente, enfrentando dificuldades para obter atendimento médico pelos lugares por onde já passou.
A família colombiana e o casal venezuelano aguardam tramites de documentação junto a polícia federal do Brasil para poder seguir viagem em território nacional, tendo como destino comum o estado de São Paulo.
Igreja católica na fronteira
A presença e missão da igreja católica nas fronteiras foi reforçada durante o sínodo para a Amazônia, que tratou este tema com importância e seriedade. O documento final do sínodo (DF, 113) chama a atenção para maior articulação da igreja presente nas fronteiras para os diferentes temas da região: “A pastoral social conjunta das dioceses situadas nas fronteiras dos países deve ser reforçada para enfrentar problemas comuns que ultrapassam o âmbito local, como a exploração de pessoas e territórios, o tráfico de drogas, a corrupção, o tráfico de pessoas, etc.”.
O documento é bem enfático ao afirmar que “O problema da migração deve ser abordado de forma coordenada pelas Igrejas fronteiriças. ” (Documento final do sínodo da Amazônia, 113). Tal realidade reforça a missão e o compromisso da igreja católica, por meio das pastorais, paróquias, dioceses e organismos, com a defesa da vida e a promoção da dignidade humana, em especial, dos migrantes e refugiados.
Fonte: REPAM