Nos dias 23 a 27 de junho de 2022, ocorreu o Encontro do Núcleo Justiça Socioambiental e Bem Viver da REPAM em Altamira/PA (Brasil), no Centro Formação Betânia da Diocese de Xingu – Altamira.
Por Diego Aguiar – Articulação REPAM
Aproximadamente 20 pessoas estiveram presente no encontro promovida pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) em parceria com as organizações: Comitê REPAM Xingu Altamira, Fundação Caminhos de Identidade (FUCAI), Instituto Socioambiental (ISA), Cáritas Regional Norte 2, Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP), Federação dos Agricultores Familiares do Pará – Xingu (FETAGRE- PA/ Xingu), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Diocese de Xingu Altamira, Associação dos Moradores da Reserva Extrativista do Rio Iriri (AMORERI), Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Rio Xingu (AMOMEX) e Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Riozinho do Anfrísio (AMORA), promoveram o evento.
O objetivo do evento é conhecer e compartilhar experiências alternativas e saberes das comunidades e organizações da região do Rio Xingu e Transamazônica. De modo a conhecer os trabalhos e iniciativas realizados na dimensão da soberania alimentar, convivência harmoniosa com a floresta e o bem viver dos povos, em contraposição aos grandes projetos implantados na região que geraram graves agressões ao bioma Amazônia e às populações locais.
Desenvolvimento econômico
Frei Atílio Battistuz, que integra a equipe de coordenação do Núcleo Justiça Socioambiental e Bem Viver da REPAM ressalta que o encontro deseja “despertar, criar integração, articulação entre os projetos e iniciativas que sabemos que são saudáveis e que têm futuro. São projetos que apoiam um modo de vida alternativo ao modelo de desenvolvimento econômico na sociedade que é puxado pelo agronegócio, pela mineração e pelas grandes obras de infraestrutura”.
O primeiro dia do encontro foi marcado por um momento de espiritualidade e uma breve apresentação pessoal e das instituições que representam, para um conhecimento mútuo e alinhamento geral do encontro.
Experiências alternativas
No segundo dia, ocorreu uma visita à Casa Familiar Rural de Altamira, onde a Associação dos Pequenos Produtores de Altamira e Região (APRAR) mantém a Escola Rural e o Apiário. Os participantes do encontro dialogaram com lideranças da associação e visitaram o apiário, conheceram o processo de coleta, processamento e embalagem do mel, assim como o histórico de luta dos associados ao incentivo da agricultura familiar ecológica.
No mesmo dia, visitou-se o Reassentamento Urbano Coletivo (RUC) Laranjeira, um dos reassentamentos destinados às famílias que foram impactadas pela construção da Usina Hidroelétrica de Belo Monte. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) coordenou a visita proporcionando o conhecimento de um dos projetos que dinamizam no local: a implementação de hortas quintais, que incentivam os moradores ao cultivo de plantas medicinais, hortaliças e verduras para apoio ao consumo.
Após a visita de três experiências de hortas quintais apoiadas pelo MAB, realizou-se um diálogo com as lideranças do Reassentamento para relatarem o impacto da construção da Usina Belo Monte no seu modo de vida e de como vêm lidando com a dificuldade para garantir seus direitos básicos: moradia, emprego, infraestrutura, saneamento básico, entre outros.
À noite, de volta ao Centro Pastoral, promoveu-se um diálogo sobre a Rede de Cantinas e os produtos comercializadas por meio de uma rede colaborativa com as populações das Reservas Extrativistas da Terra do Meio. O diálogo foi realizado em parceria com Roberto Rezende, que atua como Coordenador Adjunto do Instituto Socioambiental (ISA) em Altamira.
O coordenador do MAB Altamira e participante do encontro, Wellinton Lopes de Freitas, destaca que:
“[…] o encontro foi importante para poder sair um pouco da nossa realidade e conhecer outras experiências que dialogam com as experiências que já realizamos. A ideia é poder multiplicar os conhecimentos adquiridos para aqueles que fazem parte da caminhada do MAB. Agradecemos muito a oportunidade e esperamos nos encontrar novamente nos espaços de luta!”.
Conhecimentos e técnicas de cultivo
No terceiro dia os participantes tiveram a oportunidade de visitar a CacauWay no município de Medicilândia (PA), a primeira fábrica de chocolates da Amazônia. Apresentou-se aos participantes todo a luta da Cooperativa Agroindustrial da Transamazônica (COOPATRANS) para organizar os produtores de cacau da agricultura familiar, aprimorar seus conhecimentos e técnicas de cultivo, beneficiamento e produção de chocolate, gerando renda e sustentabilidade para região. Logo após a visita, os participantes seguiram para o município de Uruará (PA) onde conheceram a Casa Familiar Rural de Uruará.
Em uma roda de conversa articulada pelo diretor da escola Marlon Júnior Pereira dos Santos, apresentou-se aos participantes do encontro o processo de ensino-aprendizagem baseado na Pedagogia da Alternância e diversas experiências de como os adolescentes e jovens, a partir dos conhecimentos na escola, têm possibilitado a melhoria das técnicas de cultivo e produção de suas famílias. A roda de conversa contou ainda com a presença de representantes da Associação Agroextrativista Sementes da Floresta (AASFLOR) e o Movimento de Mulheres de Uruará. Os jovens estudantes também relataram aos participantes como a escola tem sido importante para o desenvolvimento do conhecimento e aprimoramento de suas habilidades no campo, o que possibilita pensar em um futuro conectado com seus modos de vida e trabalhando da terra.
Movimento de Mulheres
No quarto dia houve uma visita na sede do Movimento de Mulheres de Uruará para um maior conhecimento das atividades realizadas, especialmente com a Oficina de Corte e Costura onde as mulheres da região podem gerar renda e contribuir para o apoio financeiro de suas famílias.
Foi realizada a apresentação das atividades desempenhadas pela Fundação Caminhos da Identidade (FUCAI), e sobre “Bioeconomia da Sociobiodiversidade na Transamazônica e do Xingu” pelo Prof. Anderson Serra (Universidade Federal do Pará) e também a apresentação sobre a REPAM e os objetivos e projeções do Centro socioambiental Justiça e Bem Viver. Os participantes partilharam sobre as impressões de todo o encontro e algumas estratégias de continuidade das ações de identificação de experiências alternativas e articulação em rede na Região Xingu-Altamira.
Para o professor Anderson Serra, é importante:
“Ampliar a cooperação para todo o vasto território amazônico, junto aos diversos países, das ações de desenvolvimento local organizadas por movimentos populares, sindicatos, cooperativas, na perspectiva de uma Amazônia com mais sustentabilidade, com preservação efetiva dos recursos naturais e com maior repartição dos benefícios que a economia baseada na biodiversidade pode trazer”.
No último dia de encontro os participantes visitaram a sede das Associações dos Moradores das Reservas Extrativistas da Terra do Meio e puderam conhecer melhor sobre o processo da coleta e beneficiamento da castanha e de como as Rede de Cantinas proporciona um apoio aos moradores das reservas no sentido de melhorar o abastecimento de mercadorias, a venda de suas produções, sem realizar grandes deslocamentos. Além de propiciar a circulação de informações sobre a gestão do território, incluindo a proteção e o monitoramento das áreas protegidas, iniciativas de educação e saúde.
Este encontro encerra o ciclo de três encontros presenciais do Núcleo previstos para o ano de 2022. O primeiro ocorreu em Morelia, Caquetá (Colômbia) em abril/2022 e o segundo em Puerto Maldonado (Peru) em maio/2022. Estes encontros territoriais visam fortalecer as articulações locais da REPAM para o tema do Núcleo e promover a articulação dos atores comprometidos com a justiça socioambiental e bem viver na Amazônia.
Fuente: REPAM