Peru: em Nauta, no departamento de Loreto, começa o V Encontro do povo Kukama “Pishka Puraraka Kukama”

Nos dias 9, 10 e 11 de fevereiro, representantes do povo Kukama do Brasil, Colômbia e Peru compartilharão experiências e conhecimentos sobre sua história, seu contexto atual e seu território. Além disso, os participantes do encontro fortalecerão suas capacidades para exaltar as narrativas próprias da nação Kukama.

Por Equipe de comunicação REPAM

A importância de reunir em um mesmo espaço os indígenas kukama está nas realidades, tanto comuns quanto diversas, que se vivem dentro de um grande território. As delegações do Brasil, Peru e Colômbia compartilham historicamente casos de violação de direitos fundamentais, deslocamento indesejado e separação de grupos e famílias devido à divisão territorial. Desde a coordenação dos encontros kukama, assumida pela Rádio Ucamara, entende-se a necessidade de fortalecer os relatos que narram cada um desses fatos históricos e, por isso, durante o desenvolvimento deste espaço, foram projetados cenários formativos que ofereçam certas ferramentas de comunicação.

As narrativas dos povos

A cosmovisão, a identidade cultural e a memória dos povos que habitam a Amazônia são fundamentais para promover as lutas pela defesa do território. Por exemplo, no caso do povo Kukama, amplificar a narrativa sobre o vínculo ancestral com o rio Marañón tem permitido motivar a declaração deste afluente como sujeito de direitos; uma luta que tem sido mantida perante o estado peruano e que, atualmente, motiva diversas ações de incidência por parte dos kukama que defendem essa fonte de água.

As agressões sofridas pelos povos amazônicos durante a época da borracha são outras das preocupações que surgem ao recuperar narrativas e relatos; o contexto histórico não envolve apenas os indígenas kukama, mas se estende a outros povos que habitam o território amazônico e que, em sua época, foram dizimados, segregados e atropelados pela febre da extração de borracha. Isso levou a que, neste V encontro kukama, fossem convocados representantes de indígenas dos povos Secoya, Murui, Bora, Kichwa e Achuar, com o objetivo de que estes se unam à demanda apoiada pelos povos Kukama e Maijuna, para exigir a criação de uma comissão da verdade sobre os crimes e violências da época da borracha, incluindo a população indígena vitimizada por essa realidade.

A comissão da verdade

Durante a abertura do encontro, foi exposto que não existe um espaço onde os povos indígenas tenham sido considerados ao abordar tudo o que se refere à bonança da borracha. Por isso, outro dos objetivos é elaborar um documento que manifeste o descontentamento dos povos reunidos em Nauta sobre esse tema e as alternativas que eles propõem para um verdadeiro processo de reflexão. O argumento fundamental dessa posição é que, durante 100 anos, foram ouvidos diferentes atores envolvidos no que significou a bonança da borracha e deixou-se de lado o testemunho dos povos indígenas.

O processo de reflexão e escuta projetado durante este V encontro do povo Kukama será mediado por assessores, especialistas em direito, a própria igreja na figura do Vicariato Apostólico de Iquitos e o compartilhamento de experiências realizadas por organizações como a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), o Equipe Itinerante de Manaus, a Rede Igreja e Mineração, o Instituto de Promoção Social Amazônica (IPSA), Amazon Frontline, a Organização dos Povos Indígenas do Oriente (ORPIO), One Planet e o Fundo Indígena para a América Latina e o Caribe (FILAC).

9 de fevereiro de 2025