Seguir Jesus é o chamado que todo batizado recebe, um chamado que com o decorrer dos anos vai se concretizando de diferentes modos, até chegar a assumir cargos, serviços, também na Igreja, que muitas vezes mostram que os caminhos de Deus sempre nos surpreendem.
Por Luis Miguel Modino
Ser cardeal tem se tornado algo diferente, uma afirmação que neste 27 de agosto ficou mais uma vez confirmada. Durante muitos anos as sedes cardinalícias se tornaram costume na vida da Igreja. Hoje, ser cardeal é algo que escapa às especulações, qualquer um pode ser cardeal, inclusive um dalit, um intocável no sistema de castas indiano, um bispo com pouco mais de mil católicos na sua diocese, que ainda diz não ter assimilado o que representa sua nova missão, ou alguém que mora no meio da floresta amazônica, e sente seu chamado como um elemento que impulsiona a nova tarefa que o Papa o tem encomendado.
São as surpresas de um Papa que nas suas primeiras palavras como pontífice disse ter chegado do fim do mundo, algo que tem marcado sua vida, no seu jeito de viver e de agir, se deixando guiar pelos sonhos que nascem de Deus e se concretizam em caminhos novos para uma Igreja chamada a responder ao chamado do Espírito.
O importante é assumir que “o Senhor chama-nos novamente a colocarmo-nos atrás dele, a segui-lo no caminho de sua missão”, segundo o Papa Francisco lembrou aos neo-cardeais. Uma missão que é serviço, enfatizou o Santo Padre, consequência do fato de ser enviados por Jesus, que “quer comunicar-nos a sua coragem apostólica, o seu zelo pela salvação de cada ser humano, sem excluir ninguém”. Seguindo a imagem do fogo, o Papa Francisco afirmou que em Jesus, “a misericórdia do Pai arde no seu coração”.
Ser cristão, também ser cardeal é assumir a “corrida missionária” presente no apóstolo Paulo, “guiada, sempre impulsionada pelo Espírito e pela Palavra”, um fogo presente na vida de “tantos missionários que experimentaram a cansativa e doce alegria de evangelizar, e cuja própria vida se tornou evangelho, porque acima de tudo foram testemunhas”, ressaltou o Bispo de Roma.
Ele foi relatando como o fogo, que se torna presente nas brasas, acompanha a vida do povo de Deus, um Deus que é “mansidão, fidelidade, proximidade e ternura”. Um fogo das brasas que se fez presente na vida dos santos, colocando como exemplo São Carlos de Foucauld, mas também em tantos santos e santas que são presença de Deus “no local de trabalho, nas relações interpessoais, nas reuniões das pequenas fraternidades”, mas também na vida sacerdotal “entre o povo da paróquia”, na vida conjugal, na vida dos idosos.
O Papa citou o exemplo dos cardeais Casaroli e Van Thuân, exemplos de amor nas grandes e nas pequenas coisas, afirmando que “este é o coração de um padre, o coração de um Cardeal”. Aos novos purpurados, o Papa Francisco chamou a voltar o olhar para Jesus, pois ele quer acender o fogo “novamente nas margens das nossas histórias diárias”. É ele que chama pelo nome e pergunta: “posso contar contigo?“.
Aos poucos a universalidade da Igreja vai se tornando uma realidade explícita no colégio cardinalício, cada são mais os países que têm um cardeal entre seus cidadãos. Cardeais que parecem se perguntar o porquê Deus, Jesus e o Santo Padre querem contar com eles. As respostas irão aparecendo aos poucos, na simplicidade presente em quem não tem problema em se sujar as mãos para servir a esse povo simples que muitos deles pastoreiam, superando dificuldades que não dificultam, mas animam a ir além, sendo firmes na missão de uma Igreja que continua chamando pelos caminhos de Deus, sempre surpreendentes.
Fonte: CNBB Regional Norte 1