Para os cristãos, viver a Páscoa é percorrer um caminho onde Deus mostra seu amor salvífico a um mundo que precisa de Páscoa. Páscoa significa “passar da morte à vida”. Foi o que Jesus fez com sua morte e ressurreição. É o que nós lembramos, celebramos e vivemos nesta semana.
Por Dom Rafael Cob*
Todos os anos o povo de Israel, onde Jesus nasceu e viveu, celebrava a Páscoa. Esta era a maior festa do povo judeu. A festa por excelência, porque nela eles lembravam que Deus os libertou da escravidão do Faraó do Egito, que os submeteu ao cativeiro. Foi nesse dia que eles conquistaram sua independência.
O livro do Êxodo, no capítulo 13, nos lembra aqueles eventos históricos que o povo celebrava a cada ano: a travessia do Mar Vermelho, a passagem da morte para a vida, da escravidão para a liberdade. Esta é a Páscoa judaica que o povo viveu, e nos dias de hoje o povo cristão lembra e celebra.
Deus, através de Moisés, ordenou que seu povo nunca se esquecesse desta libertação e que continuasse a celebrar a Páscoa todos os anos. “Isto será como sinal em sua mão e símbolo em sua testa de que o Senhor nos tirou do Egito com mão poderosa” (Ex 13, 16).
A Páscoa da Ressurreição
Já para nós cristãos, nestes dias da Semana Santa, revivemos a Páscoa de Jesus, em quem acreditamos como nosso Salvador. Recordando, celebrando e vivendo os eventos fundamentais de sua vida, a sua morte e ressurreição.
Dentro da Semana Santa há vários atos que desembocam na Páscoa da Ressurreição de Jesus, o principal fato em que acreditamos, no dizer de São Paulo: “Se Cristo não tivesse ressuscitado, vã seria a nossa fé” (1Cor 15,14).
Entretanto, para ressuscitar dos mortos, é preciso primeiro morrer. Portanto, a morte de Cristo é um fato fundamental e um passo necessário para nos salvar da escravidão do pecado. Morte e vida são duas palavras que nos revelam toda a experiência do mistério pascal.
Não esqueçamos o significado da Páscoa judaica e da Páscoa cristã: passagem da morte para a vida. A morte é expressa ou revelada de diferentes formas ou maneiras. Além da morte física do corpo, pode ser a escravidão e a dor que uma pessoa sofre por causa do pecado, ou seja, uma morte moral.
O caminho rumo à Páscoa
Entre as ações que levam à morte e ressurreição de Jesus, e que celebramos durante a Semana Santa, está o Domingo de Ramos, que é como o pórtico que abre a Semana Santa. Esta celebração anuncia Jesus em sua entrada triunfal em Jerusalém, lembrando-nos que Ele triunfará pela ressurreição depois de morrer na cruz. Nesta festa, chamada Domingo de Ramos, o ramo que trazemos para abençoar é um sinal com o qual manifestamos que Jesus é nosso Rei. Como o proclamou aquele povo que seguia e amava Jesus, assim também nós devemos lembrar a quem devemos servir como nosso Rei.
Dentro da Semana Santa, os três últimos dias compõem o Tríduo Pascal, que nos recordam os três principais acontecimentos de nossa salvação: na quinta-feira, a Ceia do Senhor; na sexta-feira, a paixão e a morte de Jesus; e no sábado, na Vigília Pascal, a Ressurreição de Jesus.
São três dias não apenas para recordar, mas para celebrar e viver mais intensamente nossa fé, como povo de Deus. São três dias para rezar, refletir e contemplar estes atos salvíficos. Três dias não para ir de férias à praia ou a algum outro lugar, mas para ir ao templo de minha comunidade ou paróquia, para ouvir a Palavra do Evangelho que estes acontecimentos nos narram.
Três dias para entrar no sentimento e viver o que Jesus viveu, a partir do coração. Para ler seu testamento de amor, para contemplá-lo e acompanhá-lo nesta via-crúcis viva. O sofrimento que Jesus suportou no caminho para a cruz e que hoje continua sendo feito por irmãos e irmãs que sofrem, sendo inocentes por defenderem a justiça. Ou irmãos e irmãs que sofrem a escravidão por causa do pecado do mundo injusto em tantos caminhos de morte, como a droga, o tráfico de drogas, a prostituição, etc.
Cristo ressuscitou! E vive em nós e conosco!
Talvez não seja fácil sintonizar-nos com a dor e a morte que vemos na mídia e fiquemos somente em lamentações. Esta Semana Santa não terminou na cruz, nem no túmulo. Ela terminou com a proclamação: Cristo Ressuscitou! Ele venceu a morte e está vivo em cada homem e mulher que proclama esta verdade aos outros, com palavras de paz e esperança, de alegria e exultação. Cristo vive em mim e eu o comprovo por minha fé e minhas obras, que o certificam.
Passamos pela cruz do sacrifício para alcançar a luz pascal que ilumina nossas trevas, que dissipa nossas sombras, que nos dá segurança, que nos traz a alegria de viver acreditando não em um Cristo morto, mas em um Cristo morto e ressuscitado. Não devemos ser cristãos tristes ou tristes cristãos. Devemos ser testemunhas da alegria, da paz, do amor que Cristo nos deu para que a partilhemos.
Por isso dizemos aos quatro ventos: Feliz Páscoa! Levante-se e caminhe por caminhos de vida. Alegre-se. Cristo ama você e quer viver em sua vida. Viva a Páscoa, ou seja, a passagem da morte para a vida, do pecado para a misericórdia divina, da escravidão para a liberdade. Sim, se pode sair do vício e da morte. Basta ter fé nele. Lembre-se: celebre e viva a Páscoa de Jesus.
Feliz Páscoa!
*Dom Rafael Cob, Bispo de Puyo (Equador) e Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM)
Tradução – Irmão Hugo Bruno Mombach